Sobre o caso Tinga.

Eu não tinha comentado esse assunto do racismo e do Tinga, mas acho que vale citar uma experiência que eu passei.

Em 2012, eu fui passar um fim de semana sozinho em Lima (Peru). No domingo, eu queria assistir a um jogo do Campeonato Peruano. Por curiosidade mesmo, para ver como era a qualidade do jogo, o estádio, a torcida, etc.

Fui a Sport Boys x León de Huánuco, num pequeno estádio dentro de um parque esportivo no município vizinho de Callao, com capacidade para pouco mais de 10.000 pessoas.

O juiz apitou, o chute inicial foi dado, e segundos depois rolaram a bola para um dos zagueiros do León de Huánuco, o time visitante. O estádio inteiro começou a fazer um barulho estranho. O zagueiro passava a bola para outro jogador, o barulho parava. A bola voltava para o zagueiro, barulho de novo.

O León de Huánuco tinha um zagueiro negro, alto e forte, com o biotipo similar ao do Rodrigo Moledo (ex-Inter), ou ao do Júnior Baiano, pra quem é das antigas. 

Eu, na minha ingenuidade, ainda demorei uns minutos para entender o que estava acontecendo. Era o som de macaco, o mesmo que os torcedores também peruanos proferiram contra o Tinga essa semana. 

Eu fiquei incrédulo. Porque, embora eu saiba que isso também acontece no Brasil em algumas ocasiões, nos 500 jogos que já fui no estádio na minha vida, nunca tinha visto algo parecido. Aí eu, O CARA MAIS BRANCO DO ESTÁDIO, diga-se de passagem, era provavelmente o único que ficava quieto quando o zagueiro negro tocava na bola.

Fiquei torcendo o jogo inteiro pro time adversário e para o zagueiro marcar um gol e calar a boca de todo mundo. Mas nem isso faria sentido, pois com a cultura preconceituosa já adquirida pelos torcedores peruanos (taí o jogo do Cruzeiro para provar), a torcida do time do zagueiro negro, em seu estádio, também faria o mesmo com um jogador negro de outro time.

Vale a pena ver essa matéria do Régis Rösing com o Tinga que foi ao ar hoje de manhã no Esporte Espetacular.

 

1 Responses to Sobre o caso Tinga.

  1. É realmente lamentável esse tipo de situação, e quando presenciada, de perto, parece que fica ainda mais revoltante.

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